Sunday 24 November 2024 - 09:53

Dr. Mohsen SHATERZADEH

Managing Director Fan Avaran Energy Pak Co.


Assistant Professor

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Embaixador do Irã vê afinidades entre Lula e Ahmadinejad 2009 / 05 / 01

O embaixador do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, disse que existem "afinidades políticas" entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e que essas semelhanças "justificam a aproximação" entre os dois países.

"Essas semelhanças se encontram, por exemplo, na idéia de justiça social, no combate à pobreza e na luta contra políticas colonizadoras modernas", disse o embaixador.

Ainda de acordo com Shaterzadeh, os dois presidentes têm idéias semelhantes no sentido de criar "uma nova ordem mundial". O presidente do Irã chega a Brasília na próxima quarta-feira, para um encontro com Lula. Ahmadinejad será acompanhado por uma comitiva de 200 pessoas - o maior grupo que acompanhou o presidente iraniano ao exterior, segundo a embaixada.

A visita vem sendo articulada há mais de dois anos. A proposta surgiu em janeiro de 2007, quando Lula e Ahmadinejad se encontraram no Equador, para a posse do presidente Rafael Correa. Até o final do ano, o presidente brasileiro deverá visitar Teerã.

Países "fortes e influentes"
Na avaliação de Shaterzadeh, esse é o início de uma "nova etapa" na relação entre os dois países. Segundo o embaixador, a aproximação entre Brasil e Irã deve ser lida no contexto de uma "nova ordenação mundial".

"A fase do unilateralismo passou. E nesse novo mundo, baseado na idéia do multilateralismo, muitas potências emergentes estão surgindo. Brasil e Irã estão entre esses países", diz Shaterzadeh.

Segundo ele, Brasil e Irã são países "fortes e influentes". "É importante que os países em desenvolvimento intensifiquem suas relações", diz. De acordo com o embaixador, a visita de Ahmadinejad ao Brasil não foi prejudicada com a nota divulgada pelo governo brasileiro, no qual se diz "preocupado" com o discurso do presidente iraniano durante uma conferência das Nações Unidas (ONU) sobre o racismo.

Na ocasião, o presidente Ahmadinejad descreveu o governo de Israel como "racista" e o Holocausto como "pretexto" para proteger os judeus. Para o embaixador do Irã, o governo brasileiro tem o "direito natural" de expressar suas posições sobre grandes questões. Mas o assunto não está na pauta do encontro de quarta-feira.

Veja trechos da entrevista do embaixador Mohsen Shaterzadeh:

Essa é a primeira vez que um chefe de Estado iraniano faz uma visita oficial ao Brasil. Por que agora?

Mohsen Shaterzadeh - É preciso deixar claro que as condições mundiais mudaram. O unilateralismo passou. Estamos diante de um mundo sem lados, sem pólos. E nesse novo mundo, baseado na idéia de multilateralismo, novas potências emergentes estão surgindo, e o Brasil e o Irã estão entre esses países.

Outro ponto que é importante enfatizar é que, nesse mundo multilateral, as cooperações Sul-Sul estão entrando em uma nova fase, baseada nos recursos internos desses países.

Mas o terceiro ponto e mais importante são as visões em comum que os dois presidentes têm sobre diversos assuntos. Esse é um elemento muito forte e que justifica estabelecer um diálogo entre Brasil e Irã.

Essas semelhanças se encontram, por exemplo, na idéia de justiça social, no combate à pobreza e na luta contra políticas colonizadoras modernas. Além disso, há semelhanças entre os dois presidentes no sentido de criar uma nova ordem mundial, uma nova ordem nas instituições internacionais. Essas semelhanças justificam a aproximação e um diálogo entre os dois países.

Além disso, a política externa iraniana, especialmente durante o mandato do presidente Ahmadinejad, coloca ênfase especial no relacionamento com países da África e da América Latina. E também encontramos esse ponto semelhante na política externa do presidente Lula, de desenvolver as relações do Brasil com a África, com Oriente médio, com países da Ásia.

Como será essa visita?

MS - A comitiva que acompanhará nosso presidente ao Brasil é composta por mais de 110 especialistas, em diversos campos econômicos. Esse grupo representa 65 empresas, além de instituições e ministérios, em 23 diferentes áreas, como petróleo, gás, seguros, comércio, indústria alimentar e pesquisa.

Os técnicos chegam dois dias antes e têm reuniões setoriais com suas contrapartes brasileiras, em São Paulo. Na quarta-feira, quando os dois presidentes se reúnem, eles terão um relatório sobre as negociações feitas pelos dois grupos.

De quem partiu a iniciativa para esse encontro?

MS - A iniciativa foi das duas partes. Durante um encontro no Equador, para a posse do presidente Rafael Correa, os presidentes Lula e Ahmadinejad falaram em incrementar as relações. A partir daí começou um processo diplomático.

O presidente Ahmadinejad vem desenvolvendo uma relação bastante próxima com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. É esse nível de relacionamento que se espera entre Brasil e Irã?

MS - Se me permite, quero dar um pouco uma explicação sobre a relação entre Venezuela e Irã. São países que pensam no bem-estar da sociedade, como também no relacionamento entre países.

Esse é um ponto que orienta nossas relações em nível mundial: a seriedade e a sinceridade. Nossas relações com países da América Latina, Oriente Médio, África, e outros asiáticos, hoje em dia está se desenvolvendo bastante. E essa relação também se baseia nos princípios da revolução islâmica, para o bem-estar do povo.

Mas o nível de relacionamento que existe entre Irã e Venezuela pode ser atingido com o Brasil?

MS - Isso só o futuro dirá.

Um dos principais assuntos na pauta desse encontro será o comércio bilateral. O Irã tem um déficit comercial muito grande com o Brasil. Vocês pretendem abordar esse assunto?

MS - O equilíbrio comercial não é algo que podemos impor. É certo que a relação comercial entre Brasil e Irã é desequilibrada, mas isso quer dizer que podemos aproveitar as potencialidades que cada um tem. Certamente se os dois países se aproveitarem de toda a potencialidade que existe, no sentido de completar um ao outro, aí sim, penso que nós vamos chegar a um equilíbrio nas relações.

Certamente esse desequilíbrio existe na relação comercial, mas se conseguirmos completar isso com outros pontos, como através do investimento, dos projetos de cooperação industrial e em tecnologia, sim, nesse ponto penso que podemos criar um equilíbrio nas relações bilaterais entre os dois países.

Eu diria que estamos em uma fase de descobrimento dessas potencialidades entre o Irã e o Brasil.

O senhor acredita que o Brasil pode, ainda que no futuro, ser uma espécie de intermediador entre o governo do Irã e outros países, como por exemplo, os Estados Unidos?

MS - Esse assunto não está incluído na agenda entre as duas partes. Se houver algum diálogo, no futuro, entre Irã e os Estados Unidos, certamente esse diálogo será direto, baseado nos princípios de respeito mútuo e de não-intervenção. E também, o mais importante, baseado em alterações no comportamento de cada um.

O Itamaraty divulgou uma nota, recentemente, mostrando "preocupação" em relação ao discurso do presidente Ahmadinejad, em Genebra, durante a conferência sobre o racismo. Como o senhor viu esse comentário do governo brasileiro?

MS - Esse é um direito natural do Brasil e de qualquer país que expressa suas posições sobre grandes questões. Nossa abordagem é de que a nota enfatizou o interesse brasileiro em concretizar a visita. Nossa idéia sobre a nota do Itamaraty é nesse sentido, de que nenhum elemento poderia interferir na concretização dessa visita, uma visita importante e que foi programada há muito tempo.

Quero também aproveitar para dizer que nós desmentimos uma notícia publicada, de que teríamos sido chamados ao Itamaraty para tratar do assunto (do discurso). Nunca houve conversas entre a embaixada e o Itamaraty sobre esse ponto. O que houve foi muita colaboração entre as duas partes, nas últimas semanas, no sentido de programar a visita.

A nota do Itamaraty diz que o assunto (o discurso do presidente Ahmadinejad) será tratado no encontro entre os dois presidentes. O assunto está na pauta?

MS - Não. Mas certamente a posição oficial do Itamaraty, quem tem de falar é o Itamaraty.

Mesmo não estando na pauta, caso o Itamaraty venha a propor o assunto, os senhores estão abertos para conversar sobre isso?

MS - Esses não são assuntos bilaterais.

Alguns setores da sociedade brasileira criticam o encontro. O que o senhor diria para esses críticos?

MS - Uma característica de uma sociedade aberta é que todo mundo fala. Isso é muito natural. Existe uma diferença cultural, mas existem também muitos pontos de vista em comum. Por exemplo, os grandes movimentos de procura por justiça social e de luta contra a pobreza.

É importante frisar a idéia de que são dois países soberanos, que têm independência nas tomadas de posição e de decisão em nível internacional. E é bom enfatizar a idéia de que os dois países estão à procura de um papel importante em nível internacional para si e para os países em desenvolvimento. O mais importante ainda, o interesse em estabelecer a paz e a tranquilidade do mundo são idéias muito fortes e nós temos que pensar nesses pontos em comum e não nos atritos.

Penso que, se houver alguns grupos sinceros, para apresentar suas diferenças, e se existir sinceridade em expressar essas idéias, nós podemos estabelecer o diálogo, baseado nos interesses das nações. De nossa parte, podemos preparar o terreno para um contato entre intelectuais, cientistas e pensadores dos dois países.               


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