Nenhum país deve ter armas nucleares 2010 / 04 / 16
Partido Socialista Brasileiro - PSB
16/04/2010
*Entrevista concedida à jornalista Viviane Vaz e publicado no jornal Correio Braziliense Especialistas de 60 países e chanceleres de 15 nações se reúnem amanhã e domingo na capital iraniana, Teerã, para outra conferência mundial sobre desarmamento nuclear. Sob o lema Armas nucleares para ninguém e energia para todos, a discussão sobre a não proliferação nuclear deve tomar um rumo diferente da reunião realizada em Washington nesta semana, na qual o Irã foi o país mais criticado, apesar de não ter sido convidado. Da parte brasileira, o Itamaraty confirmou que o embaixador em Teerã, Antonio Luís Espinola Salgado, deve participar do encontro.
Os principais temas de debate da conferência deverão girar em torno da eliminação de todas as armas nucleares, químicas e biológicas; das formas de monitoramento das atividades envolvendo tecnologia nuclear; e da cooperação entre os países que assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e aqueles não signatários.
Em entrevista ao Correio, o embaixador iraniano, Mohsen Shaterzadeh, defendeu o direito da República Islâmica de dominar a tecnologia nuclear, como país signatário do TNP, e ressaltou que o reator nuclear que seu país possui em Teerã, adquirido dos Estados Unidos pela monarquia do xá Reza Pahlevi, serve apenas para fins pacíficos — “o mesmo caminho seguido pelo Brasil”.
A Conferência sobre Desarmamento e Não Proliferação Nuclear no Irã foi organizada como resposta à reunião sobre o mesmo tema realizada em Washington?
Essa conferência estava programada desde o ano passado. Não tem nada a ver com os Estados Unidos. Preparamos um programa para discutirmos seriamente o assunto da não proliferação e do desarmamento. Esse programa foi entregue ao grupo 5+1 (países do Conselho de Segurança da ONU — EUA, Reino Unido, China, Rússia e França mais a Alemanha). Nós registramos a responsabilidade global e indicamos que o Irã seguirá buscando a não proliferação e o desarmamento. No entanto, acreditamos que essas regras devem valer para todo mundo. Nenhum país, sob nenhum pretexto, deve ter armas nucleares.
Quais países devem participar com chanceleres?
Mais de 70 autoridades, especialistas e diretores mundiais de três continentes, América Latina, África e Ásia, participarão da conferência. Acreditamos na cooperação sul-sul. Temos grande atenção com a preocupação do mundo. Essa conferência vai ser uma oportunidade para que os responsáveis dos países do Hemisfério Sul discutam a preocupação com os riscos que provêm de armas nucleares. Nós esperamos que os ocidentais, especialmente os Estados Unidos e a União Europeia, tenham uma visão mais séria sobre esse assunto.
Israel também foi convidado para a reunião em Teerã?
Não. Mas há uma razão para isso: eles são contra os que pedem o desarmamento, nunca participam das reuniões e não assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Além disso, nunca reconhecemos Israel como um Estado legítimo. É um regime sem legitimidade, invasor de terras (palestinas).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu em Washington o caminho das negociações com o Irã, em vez das sanções. Como o governo iraniano avaliou essa posição?
Acreditamos que a posição do presidente Lula é legítima. Nós não acreditamos no grupo 5+1, mas acreditamos no Brasil, porque os brasileiros são solidários à paz no mundo. Respeitamos Lula como uma personalidade mundial que busca a paz e os direitos humanos, e acredito que ele conhece a realidade sobre as armas nucleares e trabalha ativamente para a paz real e justa. E a realidade é que o Irã sempre esteve disposto a negociar e não quer urânio para armas nucleares, mas para produzir energia e bem-estar para a população. Estamos seguindo o mesmo caminho do Brasil. Assinamos o TNP para aproveitar os direitos de desenvolver essa tecnologia prevista pelo tratado. Nesse sentido, o presidente Lula e o premier turco, Recip Erdogan, sugeriram em Washington que, em vez de levar o urânio do Irã para ser enriquecido na Rússia ou na França, proposta que não agradava o governo iraniano, que o urânio fosse enriquecido a 20% na Turquia.
O governo iraniano aceitaria essa proposta?
Sempre estivemos de acordo com a troca de combustível. O tema é que, como nós não confiamos nos países ocidentais, queremos que a troca seja no mesmo momento (entregando o urânio enriquecido no Irã a 3% e já recebendo a 20%). Há 35 anos, assinamos com os franceses um acordo semelhante e não recebemos nada. Não queremos que isso se repita agora. Nós confiamos nos brasileiros e nos turcos e estamos dispostos a colaborar. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tem responsabilidade para nos facilitar esse material nuclear. Somos compradores de combustível para esse reator que serve para o tratamento de 800 mil iranianos. Quem vende tem o direito de definir o preço, mas quem compra pode colocar as condições de compra. A imposição é cruel para toda a humanidade. Estamos dispostos à troca em condições justas.
Os EUA esperam aprovar sanções contra o Irã nas Nações Unidas. O governo iraniano tem se preparado para essas sanções, caso se confirmem?
Os Estados Unidos não podem fazer nada. Quando tinham a força, não fizeram, e atualmente estão fracos para fazê-lo. E o Irã tampouco é um país de cruzar os braços, então vai poder superar todas as dificuldades. Estamos há 30 anos sob embargo dos EUA, mas ficamos cada vez mais fortes e desenvolvidos. Até hoje, suportamos vários embargos de países ocidentais e mesmo assim avançamos. Desenvolvemos tecnologia aeroespacial nesse período, somos a 16ª economia mundial e nosso comércio exterior chegou a US$ 170 bilhões. Esse avanço econômico não passa desapercebido. Nós diversificamos nosso comércio exterior e diminuímos a dependência. Nosso intercâmbio comercial com a China, por exemplo, é de US$ 30 bilhões. O Brasil também poderia ocupar, com facilidade, um papel de destaque na nossa balança comercial. Nosso relacionamento com os países do sul, da África, com a Indonésia e a Malásia aumentaram bastante e temos hoje projetos com 45 países. Portanto, a presença ou não de países ocidentais na economia iraniana não tem importância.
O senhor mencionou que o aiatolá Khamenei afirmou que a construção de armas nucleares vai contra o Islã e está proibida no Irã. Poderia falar mais sobre isso?
O Islã é uma religião de paz e afeto, apesar das explicações distorcidas na mídia ocidental, baseadas em mentiras. A ordem do aiatolá é a de que armas nucleares são proibidas no Islã. Isto é, não temos direito a produzi-las.
Então, por que há grupos, como a Al-Qaeda, que se dizem “islâmicos” e praticam atentados terroristas?
Não estamos de acordo com esses grupos. Eles não têm comportamento islâmico. E acreditamos que esses grupos são estruturados por ocidentais. A religião islâmica não precisa desses atos extremistas.
منبع: psB - partido solialista Brasileiro socialismo e liberdade
- By Mohsen Shaterzadeh
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