O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva minimizou ontem as declarações feitas pelo chanceler francês,
Bernard Kouchner, de que seria “embromado” pelo líder iraniano Mahmoud
Ahmadinejad.
Em visita a Recife, Lula
— cuja visita a Teerã está marcada para o próximo dia 15 — defendeu a
necessidade de dialogar para que um acordo capaz de frear o controverso
programa nuclear iraniano. Mostrando-se surpreso pelas declarações de
Kouchner, o presidente aproveitou para dizer que “não acredita em
política de recados”.
— O Brasil está consciente do que está
fazendo, maduro e preparado. Se você conversar com o presidente Barack
Obama ou qualquer grande líder europeu, vai ver que ninguém chamou o
Ahmadinejad para conversar — afirmou Lula.
Lula
deve se encontrar com aiatolá Khamenei Irritado, o presidente disse
ainda que o Brasil tem conhecimento suficiente e que não vai admitir
“lições”: — As pessoas não devem ficar mandando recado. Como não
acredito nessa política de recado, terceirizada, como político vou até o
presidente do Irã dizer o que penso. Eu quero paz e o desarmamento
nuclear.Votei para que o Brasil não tenha armas. Então, ninguém venha me dar lições sobre armas nucleares, pois nós temos know how.
As declarações francesas também causaram irritação em Brasília. O
embaixador iraniano no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, contra-atacou,
afirmando tratar-se de “ uma afronta ao governo e ao honesto povo
brasileiro”. O diplomata recomendou ainda que o governo de Paris se preocupe com seus assuntos internos.
— O presidente Lula é um líder inteligente e digno de respeito.
Nós respeitamos o presidente Lula
como uma grande personalidade mundial. Os países ocidentais, como a
França, têm que se preocupar com seus assuntos internos. Estão perdendo o
respeito internacional — disse Shaterzadeh.
O embaixador classificou como “ridículas” as acusações de que seu país esteja tentando produzir armamento nuclear.
Questionado
sobre a possibilidade de apresentar garantias de que seu programa
nuclear é pacífico, o diplomata reagiu com um ataque a Israel que,
segundo ele, tem pelo menos 200 ogivas.
— O Irã já passou por
várias inspeções. Por que ninguém dessa agência (Internacional de
Energia Atômica) vai a Israel? O desarmamento tem que acontecer para
todos — protestou. Segundo a embaixada iraniana, em Teerã, além do encontro com Ahmadinejad, Lula deve se reunir com várias autoridades — inclusive o líder espiritual do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Os iranianos garantem ainda que Lula participará da reunião do G-15, grupo dos chamados “países não-alinhados”, no dia 17. O Palácio do Planalto, contudo, não confirma a informação.
Em
outra frente diplomática, na noite de quinta-feira, o ministro das
Relações Exteriores do Irã, Manoucher Mottaki, recebeu diplomatas dos 15
países-membros do Conselho de Segurança da ONU para um jantar em Nova
York. A reunião aconteceu na residência oficial do embaixador iraniano
nas Nações Unidas. O Brasil foi representado pela embaixadora Maria
Luiza Viotti, mas Estados Unidos, França e Reino Unido optaram por
enviar representantes do segundo escalão diplomático.
Iranianos servem restos no jantar, diz porta-voz
O chanceler iraniano reiterou que seu país examina a possibilidade de acordo para a troca de urânio enriquecido.
Mottaki,
no entanto, também garantiu que o Irã não pretende voltar atrás nos
projetos de operar novas centrífugas para enriquecimento de urânio.
A Casa Branca interpretou o convite iraniano como um sinal de que
Teerã “muito preocupado” com a perspectiva de isolamento internacional
caso novas sanções econômicas sejam aplicadas. Segundo o portavoz do
Departamento de Estado, Philip Crowley, os diplomatas não conseguiram
superar o impasse.
— O chanceler iraniano convidou os membros
do Conselho de Segurança para jantar, mas serviu restos. Infelizmente,
ele não disse nada de novo.
Vamos continuar a trabalhar numa
resolução que mostre ao Irã as consequências de descumprimento (de
obrigações) — afirmou Crowley, através de seu Twitter.
Apesar
dos insistentes esforços diplomáticos de Brasil e Turquia para evitar
uma quarta rodada de sanções, fontes europeias com acesso às conversas
do chamado grupo dos 5 + 1 — EUA, Rússia, França, Reino Unido, China e
Alemanha — dizem que a resolução deve estar pronta para ser votada na
segunda semana de junho.
منبع: o Globo
- By Mohsen Shaterzadeh
- Português Notícias