desenvolver a bomba atômica e rebate críticas de que Teerã estaria usando o Brasil para ganhar tempo
Brasília
– Uma "afronta" ao governo e ao povo brasileiro, foi como o embaixador
do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, classificou as declarações do
chanceler francês, Bernard Kouchner, de que Teerã está tentando
"embromar" o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o diplomata, a
França e demais países ocidentais "têm de se preocupar com seus assuntos
internos", sob pena de "perderem credibilidade". O representante
iraniano afirmou ainda que um acordo para a troca de urânio no Brasil
dependeria dos líderes dos dois países, que vão se encontrar na próxima
semana em Teerã, mas ressaltou que seu governo quer a garantia
"concreta" de que, seja qual for o local escolhido, a troca seja
simultânea: o Irã entrega seu material e recebe no ato o urânio
enriquecido.
"Nós temos duas condições, e a primeira delas é que a troca seja feita
ao mesmo tempo. Se essa condição for atendida, a segunda, que é o local,
pode ser resolvida também", afirmou Shaterzadeh, em entrevista
coletiva. O embaixador, no entanto, preferiu não falar sobre uma
possível proposta apresentada pelo governo brasileiro para viabilizar a
troca, mencionada pelo presidente Mahmud Ahmadinejad em telefonema ao
colega venezuelano, Hugo Chávez, na última quarta-feira. "Essa pergunta
deve ser feita às autoridades brasileiras", disse. Questionado sobre a
evolução das negociações, o chanceler Celso Amorim disse ver "um
avanço": "Eu notei na liderança iraniana uma forma mais pragmática. Acho
que existe um espaço".
Segundo Shaterzadeh, todas as movimentações feitas pelo Brasil têm sido
muito bem-vindas em Teerã. "O presidente Lula confirmou que o que ele
quer para o Irã é o mesmo que ele quer para o Brasil. E acreditamos que,
com a sua atitude de defesa da justiça e dos interesses dos povos, ele
não vai decidir pelos Estados Unidos", afirmou. "Nós confiamos no
Brasil, mas não confiamos nos países ocidentais", acrescentou. O
diplomata assegurou, contudo, que seu país ainda considera a AgênciaRESPEITO
A uma semana da chegada de Lula a Teerã, representantes dos governos
francês e americano demonstraram preocupação de que o Irã esteja usando o
Brasil para ganhar tempo, enquanto os membros do Conselho de Segurança
discutem novas sanções ao país. "Penso que, infelizmente, Lula vai ouvir
as mesmas histórias que ouvimos há tantos anos", disse o chanceler
francês. O embaixador iraniano respondeu que ele o governante brasileiro
"é um líder inteligente e digno de respeito". "Nós respeitamos o
presidente Lula como uma grande personalidade mundial. Os países
ocidentais, como a França, têm de se preocupar com seus assuntos
internos. Eles estão perdendo o respeito internacional e até
internamente." O Itamaraty não se manifestou sobre as declarações.
Shaterzadeh destacou que seu país já disse "várias vezes" que está
disposto a trocar urânio, mas insistiu na exigência de "sinceridade" da
outra parte. "A confiança é uma coisa de duas vias, não é possível se só
um lado quer e o outro, não. Nós já demonstramos o nosso bom senso.
Agora, a bola está do lado ocidental", declarou. Ele fez pouco caso das
ameaças de sanções. "Não estamos preocupados com esse tipo de punição.
Há 30 anos, os EUA determinaram esse tipo de relacionamento com o Irã,
e, em todas as áreas, o país avançou", afirmou.
Visita histórica
Os três dias que o presidente Lula passará em Teerã, entre 15 e 17 de
maio, serão um "marco histórico", segundo o embaixador iraniano. "Brasil
e Irã podem colaborar de forma importante para a criação de uma nova
ordem mundial", disse. Shaterzadeh informou que o brasileiro será
recebido por várias autoridades iranianas, inclusive o líder espiritual,
aiatolá Khamenei, e participará, no último dia de
Internacional de Energia Atômica (AIEA) o principal interlocutor para
as negociações sobre o programa nuclear. "Nós nos comunicamos com a
AIEA, e se os Estados Unidos estão encontrando alguma dificuldade, que
se comuniquem com a agência", disse.
viagem,
de uma cúpula do chamado G-15, o grupo de países "não-alinhados",
também na capital iraniana. Segundo o embaixador, pelo menos dez dos 15
chefes de Estado do grupo – que inclui Argentina, México, índia e
Venezuela – estarão presentes em Teerã. "O presidente Lula é um líder
mundial valioso. No Irã, todos os esforços estão sendo feitos para uma
recepção calorosa", garantiu.
Sem medo de Serra
O embaixador iraniano no Brasil disse acreditar que a política externa
brasileira seguirá sua "linha independente", mesmo que haja grandes
mudanças no Planalto com as eleições de outubro. Ao comentar a oposição
declarada do pré-candidato à Presidência da República, José Serra
(PSDB), à política de Lula em relação a Teerã, Mohsen Shaterzadeh disse
que "nas campanhas eleitorais muitas coisas são ditas, mas os fatos
concretos podem ser vistos só quando se começa a governar".
Recentemente, em entrevista à TV Bandeirantes, Serra disse achar um
"equívoco" dar "apoio político ao Irã". "é um apoio que nem países como a
Rússia, a China dão na medida que o Brasil tem dado", disse o tucano.
منبع: Estado do Minas
- By Mohsen Shaterzadeh
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