Embaixador diz que não houve oferta formal do Brasil de asilo à iraniana 2010 / 08 / 12
O Irã manterá presa a mulher condenada à
morte por apedrejamento. Em entrevista à Agência Brasil, o embaixador
do Irã no Brasil, Mohsen Shaterzadeh, descartou o envio da viúva Sakineh
Ashtiani, de 43 anos, para o Brasil. O diplomata negou que tenha
ocorrido formalmente a oferta do Brasil ao governo iraniano de asilo ou
refúgio político para a mulher.
Shaterzadeh disse que o assunto
envolve apenas o Irã, pois a mulher condenada é iraniana, o que elimina a
possibilidade de outro país ser incluído no processo. Para o
embaixador, o caso ganhou repercussão internacional porque há uma
manipulação por meio da internet e da imprensa estrangeira para
constranger o governo do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
“Nós
não recebemos de forma oficial pedido ou oferta alguma [de asilo ou
refúgio político] para esta senhora ser enviada para o Brasil. Não houve
ofício por escrito, nota oral ou troca de notas, como é a orientação na
diplomacia em casos assim”, afirmou o embaixador. “Ocorreram crimes e
serão julgados conforme o código do Irã, que segue preceitos morais e
culturais do país”, disse ele. “O processo envolve pessoas iranianas,
por que deveria ter o envolvimento de outros países?”
Shaterzadeh
reiterou, porém, que a interpretação do assunto por parte do Irã não
significa desrespeito à oferta de Lula para que a mulher fosse enviada
para o Brasil. “Nós respeitamos muito o presidente Lula. Confiamos cem
por cento na ideia de que ele não quis interferir em assuntos internos
do Irã. Ele foi movido por sentimentos humanos e quando o nosso
porta-voz disse isso, foi com muito respeito a ele. Mas o comentário foi
mal interpretado pela imprensa brasileira”, afirmou o embaixador.
Há
cinco anos, a viúva Ashtiani, mãe de dois filhos, foi condenada à morte
por apedrejamento sob a acusação de adultério e ter mantido relações
sexuais com dois homens. Ela e a família negam as acusações. O advogado
dela, Mohammad Mostafaei, recebeu asilo na Noruega. Ele tenta levar a
família, alegando que todos correm riscos no Irã.
Shaterzadeh
disse ainda à Agência Brasil que foi encerrado o processo de adultério e
que a mulher é acusada “apenas” de assasinato do marido. O embaixador
não confirmou que a pena de morte por apedrejamento tenha sido
substituída por enforcamento. Segundo ele, o processo está em curso e
ainda não foi encerrado, por essa razão há possibilidade de alterações.
“Posso
enfatizar que não é uma questão de adultério, mas de assassinato”,
afirmou o embaixador iraniano. “Será que se este crime tivesse ocorrido
em outras partes do mundo, todos estariam reagindo desta forma?”,
perguntou. “Infelizmente, hoje em dia há um ambiente virtual que está
sendo aproveitado pela mídia. É um assunto interno do Irã que não
necessita de interferências externas”, concluiu o diplomata.
Shaterzadeh
confirmou que a sentença de morte da iranaina virou tema de várias
reuniões de diplomatas no Brasil e no Irã. Pessoalmente, o embaixador
disse ter conversado sobre o assunto com vários representantes do
Brasil. Em Teerã, o embaixador do Brasil no Irã, Antonio Salgado, também
esteve com autoridades do país asiático para informar sobre a posição
brasileira.
Ontem (11), no Rio de Janeiro, o ministro das
Relações Exteriores, Celso Amorim, reiterou que houve, sim, uma oferta
do governo para o envio de Ashtiani para o Brasil. "Houve comentários
feitos em nível diplomático que explicavam [a condenação]. Talvez eles
estejam considerando isso como uma resposta oficial, dizendo que ela é
acusada não só de adultério, mas de cumplicidade em homicídio", afirmou.
Amorim acrescentou que não ia discutir o caso. "O fato é que a situação dessa moça, inclusive em função da ameaça de apedrejamento e do suposto delito de que ela é acusada, é uma coisa que choca a sensibilidade do brasileiro como a do mundo todo". “O presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] expressou o oferecimento de recebê-la no Brasil, se isso ajudar a evitar a execução”, disse ele. “Nosso embaixador em Teerã foi instruído a comunicar o fato, o que, a nosso ver, é uma formalização deste oferecimento e do sentimento que é o do povo brasileiro”.
منبع: Agência Brasil
- By Mohsen Shaterzadeh
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